terça-feira, 13 de março de 2012

encontros de cinco minutos.

Era um domingo de almoço em família. Desde que a vida me deu uma carga de porrada que comecei a aproveitar e apreciar melhor os momentos com aqueles que, apesar de só me conhecerem pela genética, gostam genuinamente de mim. Sabem do meu feitio e já passaram por muitas vergonhas à minha pala, no entanto sem nunca me virarem costas. Fomos almoçar a Carnide, comer daqueles pratos em que nós é que cozinhamos a carne. Chamam-lhe naco na pedra. Realmente é um naco, realmente nós é que o cozinhamos em cima da pedra, mas isso não os impede de nos cobrarem 12€ por cada um. As pedras devem estar caras, penso eu naquele tom sarcástico que ninguém tem paciência para aturar o dia inteiro.

Ela queria ver-me e eu queria vê-la. A distância geográfica é uma coisa lixada quando não se possui carro ou dinheiro para os transportes. O tempo também é uma coisa tramada. Se já tenho pouco tempo para os amigos que moram relativamente perto de mim, como é que arranjo para aquela que mora a uma viagem de autocarro, outra de comboio e uma de metro em que ainda tenho de trocar de linha? Digamos que a umas duas horas de distância. Mas o almoço foi combinado à última da hora e ia ser pertíssimo da casa dela. Era a oportunidade perfeita de aproveitar para conversar com uma das pessoas com quem me sinto mais à vontade para ter as minhas filosofias, nem que fossem só 5 minutos.

E foram só 5 minutos, mas que me souberam pela vida. Já há muito tempo que ninguém me abraçava por me ver ou dizia que gostava imenso de mim à frente dos meus pais. Ela é daquelas pessoas com que se cria empatia logo de início. E eu quero lá saber da sua bagagem. A bagagem dela é a sua história e eu sempre gostei de ouvir histórias. Lá vinha ela a virar a esquina apressadamente para me ver. Comeu à pressa e veio a passo acelerado só para estar comigo aqueles 5 minutos. É giro ter amizades destas. Ainda não consigo explicar como me sinto tão à vontade para falar da minha vida e ao mesmo tempo ter as ditas conversas inteligentes. Esta amizade despertou em mim a saudade da pessoa alegre que eu era antes, bem como a vontade de aprender e de voltar a devorar livros como antigamente. Fez renascer também a vontade de escrever. Ela entende-me. Outras vezes não entende, mas sei que não é por mal. Eu própria não me entendo. Mas interessa-se, sem segundas intenções. E, juro, há tanto tempo que já não me sentia minimamente interessante...

Ali estava ela, com o seu cigarro, a acompanhar-me até ao carro, estacionado nos confins do mundo, só porque era a única maneira de estar mais uns minutinhos a falar comigo. Despedimo-nos. Ela despediu-se dos meus pais. E voltei a despedir-me dela, com a promessa de combinar algo para breve que há coisas que não se contam por telefone. Quando ela se vira para ir embora bate com a testa num poste e eu parto-me a rir.

Há muito tempo que não via ninguém a ir contra um poste.

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